“Anavantur! Anarriê! Balancê!”. Estes passos, há anos, não vêm sendo anunciados pelos marcadores de quadrilhas juninas na Rua São João. Com os festejos voltados para o santo mais conhecido do ciclo junino, o logradouro situado no bairro Santo Antônio, zona norte de Aracaju, é referência cultural para apresentação destes grupos. No entanto, o último concurso sergipano de quadrilhas juninas realizado na rua aconteceu em 2005, quando a quadrilha Assum Preto galgou o 1º lugar e, posteriormente, representou o Estado no concurso nacional do mesmo ano, consagrando-se Campeã Brasileira.
Esta tradição começou há 100 anos, em 1910, quando os moradores da rua São João se reuniam na casa de duas irmãs velhinhas. Ali, durante o mês de junho, era rezada uma novena que terminava no dia de São João com uma procissão. As festas que lá aconteciam eram voltadas a religiosidade, em especial louvando a São João de Deus –por isso a rua recebeu o nome do santo. Com o passar do tempo, a rua de terra de chão batido ganhou calçamento e nela foi construído um palco de alvenaria, no qual eram exibidas apresentações de quadrilhas e outras diversas atividades culturais. A primeira quadrilha a se apresentar na Rua São João foi a quadrilha São João de Deus, em 1950. Quatro anos depois, os primeiros concursos de quadrilha junina foram realizados, permanecendo até 2005.
Segundo Cleudo Albuquerque, presidente da quadrilha Assum Preto, 134 quadrilhas existiam em 1990 e destas, 42 sobreviveram até hoje. Para ele, falta um apoio cultural que as mantenha, o que lhe traz preocupação. “A quadrilha é um produto importante no contexto turístico cultural. Se continuar assim, as crianças que nascerem só conhecerão as quadrilhas através de arquivos em filmes e fotos”, alertou. Cleudo ainda afirma que a Rua São João é tão importante para o quadrilheiro quanto o Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, para o jogador de futebol.
Atualmente, a Rua São João serve apenas como espaço urbano para circular e, algumas vezes, é ocupada por vendedores de sulanca. A importância da Rua São João para o povo de Sergipe não se julga apenas pela tradição, mas também pela história que carrega. E representa a cultura sergipana de tal forma que turistas de diversos lugares do mundo costumavam prestigiar os eventos lá oferecidos no passado.
É lamentável que um movimento cultural como as quadrilhas juninas, tão tradicional em Sergipe esteja em decadência. Acredito que a valorização e maior divulgação do “produto” da nossa terra seja a solução e um provável estímulo ao turismo nordestino